quarta-feira, abril 02, 2008

Sobre mim...

Sou filha da Ligia Lara e do Joaquim Moura, afilhada do filho do Augusto Ruschi e uma admiradora do Drummond...Por qual motivo? Talvez por ele ter sido um admirador do meu pai. Freud explica!!! Ah, talvez por ter nascido em Espera Feliz seja uma eterna Penélope, que espera um mundo melhor. Jornal do Brasil - 01/08/1978 Carlos Drummond de Andrade Sombras no Dia Claro Joaquim Moura cansou de respirar civilização degradada e recolheu-se a um lugar delicioso, a começar pelo nome: Espera Feliz. De lá ele envia mensagens às autoridades, e a escritores e jornalistas seus amigos, lembrando-lhes que é preciso fazer alguma coisa em benefício da vida geral. E pergunta: - Com a alimentação cada vez mais desprovida de qualidade biológica (quanto maior a cidade mais contaminado o seu alimento), como será a velhice de quem hoje tem 45 e come em São Paulo, Recife, Rio de Janeiro, Hermenegildo, Cubatão, Volta Redonda etc.? Seus alimentos alterados e contaminados, da semeadura à embalagem, desde o adubo arificial que produz plantas com composição química totalmente diferente da natural, até o saco plástico, que hoje sabemos não ser inócuo nem inerte, mas cancerígeno. (por exemplo: nos EUA é proibido embalar leite em saquinhos de PVC, como é usual no Brasil). Joaquim me assusta, embora eu tenha bem mais de 45 anos. Olho para o saco plástico e fico pensando tétrico. Junho bonito lá fora; até parece dia de maio, quando maio era maio. Milagre! Mas vem do Espírito Santo a palavra de Augusto Ruschi, o sábio, a quem fizeram membro de uma academia de letras. Não sendo nada acadêmico, ele aproveitou a deixa e contou: - Esta terra onde nasci, vivi e continuo a viver, era um paraíso, hoje perdido. Ainda em 1940, o município de Santa Tereza, Espírito Santo, tinha 65% de seu território ocupado por florestas virgens. E cada dia de vida oferecia uma novidade em matéria de revelação da natureza. Hoje, as águas cristalinas estão barrentas e poluídas. Florestas heterogêneas cheias de frutas, flores, aves, mamíferos, répteis, anfíbios, foram trocadas por maciços homogêneos de pastagens insólitas, infestadas de pragas, e monoculturas de árvores exóticas que se traduzem em dólares, em vez de produzirem alimentos para a subsistência da população. De todo o cenário magnífico de antes, resta em Santa Tereza uma reserva biológica. No quadro a que se reduziu o Espírito Santo, o futuro morador de Vitória será um habitante do inferno. Mas não desamino. A humanidade tem de ser conscientizada para os problemas ambientais. A voz grave de Ruschi só não conduz ao desespero porque vem de um sábio que, apesar de tudo, não perdeu a esperança. O dia continua lindo na Tijuica, no Leblon, nas meninas que levam à praia o desejo de viver. Esse importante desejo que de tantas maneiras se procura sufocar. Afasto de coisas sombrias o meu pensamento. Vejo que o mundo se encantou com a maravilha do bebê-proveta. Mas se ainda não se conseguiu produzir o sémen e o óvulo em proveta, é maravilha muito relativa. E tão cara! Será que de repente se repete a ilusão do homem chegando à Lua? A humanidade brinca, pondo de lado os problemas concretos para resolver os fantasiosos. Um amigo se encarrega de desviar-me da menininha-proveta. Pôe diante de meus olhos um prefácio não publicado. Engraçado como se escrevem prefácios para não serem publicados. É do cientista Harold Sioli, diretor do Instituto de Limnologia (ciência das águas doces e seus organismos) da Alemanha Federal. Foi feito para a edição brasileira do livro de Goodland e Irwin, Floresta Amazônica - do Inferno Verde ao Deserto Vermelho, editado ela Universidade de São Paulo. (...)Águas, ramos, bichos, vida, alimentação; dá para encher o tempo de um homem, uma cidade, um povo, um mundo. O mundo em que desembarcamos, e já murchando apesar de tão pouco revelado a nossos olhos. O dia continua claro, ainda há bonitas paisagens neste Rio de Janeiro. Mas o coração alertado pensa em amanhã e não esquece as vozes denunciadoras que buscam evitar a catástrofe.

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